Alegrias engarrafadas
Os alcoóis e a embriaguez na cidade de São Paulo no final do século XIX e começo do XX
Daisy de Camargo
RESENHA

Alegrias engarrafadas: os alcoóis e a embriaguez na cidade de São Paulo no final do século XIX e começo do XX é uma obra que não se limita a ser um simples relato histórico, mas sim uma profunda imersão nas entranhas de uma cidade que, à sombra do desenvolvimento, pulsava com o desejo e o vício. Daisy de Camargo nos transporta para um tempo em que o álcool era tanto uma fonte de prazer quanto um subterfúgio das aflições do cotidiano. Ao abrir suas páginas, você não apenas lê, mas sente a cidade, a buzina das carroças, o odor das ruas e, principalmente, a embriaguez que envolvia São Paulo em cada esquina.
A narrativa é preciosa, não só pela riqueza de informações, mas pela forma como costura a efervescer intensa da sociedade paulista ao apogeu da sua modernização. O alcoolismo, que antes era encarado com um certo romantismo, começa a mostrar suas reais faces - a decadência moral e as histórias de vidas desfeitas no fundo de um copo. Aqui, Daisy não se inibe em abordar a relação ambígua que a sociedade tinha com o consumo de bebidas alcoólicas. O leitor é provocado a refletir: até que ponto nossas alegrias estão engarrafadas?
São Paulo era um microcosmos, onde as elites se banqueteavam enquanto a massa trabalhadora murchava sob os fardos da indústria e da migração. A autora, ao articular contextos sociais e históricos, nos permite vivenciar a ressonância das festas, rituais e encontros, onde o álcool permeava a vida cotidiana como um eixo central. Ela transforma os dados estatísticos em algo palpável, trazendo personagens reais e fictícios que denotam a luta interna de muitos: o desejo de escapar da realidade versus a peia do vício.
As reações à obra foram diversas - elogios pela profundidade da pesquisa e críticas quanto à extensão do material em algumas passagens. Alguns leitores destacam como o livro faz o leitor encarar com coragem a hipocrisia social que ainda enfrenta a embriaguez como uma questão marginalizada. Outros, porém, sentem o peso da densidade do tema, considerando que a sobriedade da análise poderia ser mais bem equilibrada com narrativas leves.
Daisy, ao utilizar suas vozes - tanto a teórica quanto a poética - nos faz enxergar que a cidade não é apenas um pano de fundo; ela é um personagem em si mesma, respirando e se transformando a cada gole. A obscuridade do passado se torna um reflexo do nosso presente, questionando: o que mudou? O que permanece? Em última análise, não se trata apenas de embriaguez, mas de uma busca incessante por significado, um grito angustiado por pertencimento em um mundo que muitas vezes parece indiferente.
Ao final, Alegrias engarrafadas não é mero documento; é um convite à introspecção. ⏳️ Ao mergulhar nas páginas deste livro, você é bombardeado com emoções, reflexões e a necessidade premente de entender não só a história de São Paulo, mas, sobretudo, a sua própria relação com as alegrias e vícios que permeiam o cotidiano. Agora, pergunto: o que você descobrirá sobre si mesmo ao ponderar sobre as garrafas que rodeiam a sua vida? 🌆
📖 Alegrias engarrafadas: os alcoóis e a embriaguez na cidade de São Paulo no final do século XIX e começo do XX
✍ by Daisy de Camargo
🧾 283 páginas
2011
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