Dom Casmurro
Machado de Assis
RESENHA

Dom Casmurro é muito mais que um romance; é um mergulho profundo na complexidade dos relacionamentos humanos, um jogo psicológico que desafia sua percepção da verdade. Machado de Assis, o mestre das palavras, revela-se nesta obra-prima como um alquimista da alma humana, provocando questionamentos que ecoam até hoje em nosso imaginário.
O protagonista, Bentinho, nos leva pela sinuosa trilha da sua memória, onde amor e traição dançam como sombras opressoras. Desde a infância, a relação entre Bentinho e Capitu, sua amada com os olhos de ressaca, é envolta em uma atmosfera de ciúmes e desconfiança. A quem interessava essa dúvida sobre a fidelidade de Capitu? Ao próprio Bentinho, que se transforma em um Casmurro, isolado na desesperadora busca por uma verdade que nunca se revela.
A genialidade de Machado não reside somente na narrativa, mas na multiplicidade de interpretações que Dom Casmurro oferece. Seria Capitu realmente uma adúltera? Ou é Bentinho quem se perde nas armadilhas da própria mente? O leitor é chamado a desvendar esse mistério, e a cada página vira um detetive em busca da verdade. Esse é o poder hipnotizante do romance: o mergulho nas emoções contraditórias, que fazem você parar e perguntar: "E se fosse comigo?"
Machado de Assis não escreveu nesse contexto por acaso. Em plena transição do Brasil do século XIX, as relações sociais e familiares estavam em transformação. O autor, uma das figuras mais influentes do realismo no Brasil, desliza entre o secular e o moderno, capturando a essência de uma sociedade em busca de identidade. É um reflexo dos dilemas universais do ser humano, emaranhados em questões de moralidade, paixão e traição.
Os leitores, ao longo dos anos, não poupavam palavras para expressar seus sentimentos após aventuras na mente deste Casmurro. Comentários variados vão de análises profundas sobre a habilidade do autor em descrever a psicologia dos seus personagens à vehemente divergência sobre o destino final de Capitu. Algumas vozes a defendem como uma vítima das circunstâncias, enquanto outras a consideram a arquétipo da traição feminina.
A relevância de Dom Casmurro vai além das páginas; ele conquistou legados. Obras posteriores e pensadores, como José Saramago e seus jogos de percepção, ou mesmo o cinema que resgatou essa história, perpetuaram a inquietude proposta por Assis. Um livro que, indiferente à temporalidade, arrasta gerações para o dilema existencial da dúvida e da subjetividade.
O que está em jogo em Dom Casmurro não é apenas um amor perdido, mas a eterna luta com o nosso próprio Eu, com as verdades que escolhemos aceitar. Ao fechar o livro, a sensação é de que você não saiu em branco dessa experiência; ao contrário, carrega consigo uma inquietação e talvez uma nova visão sobre a natureza humana.
Se você ainda não adentrou essa jornada literária, está a um passo de descobrir o que significa ser confrontado com suas próprias verdades e inverdades. Porque Dom Casmurro não é só uma leitura; é uma experiência transformadora. O que você vai fazer com essa nova perspectiva? 📖
📖 Dom Casmurro
✍ by Machado de Assis
🧾 248 páginas
2015
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