Don Juan o Convidado de Pedra
Molière
RESENHA

Don Juan o Convidado de Pedra é um turbilhão de provocações e olhares audaciosos sobre a hipocrisia do comportamento humano. Molière, em sua obra-prima, não só desconstroi o mito do amante sedutor, como também expõe as consequências catastróficas que o orgulho e a desmedida podem acarretar. É um convite, não apenas à leitura, mas a uma reflexão intensa e inquietante sobre a moralidade e a liberdade.
A saga de Don Juan, esse anti-herói libertino, é um estopim de debates que ressoam através dos séculos. No século XVII, Molière se viu no olho do furacão: a França fervilhava com as tensões sociais, normas rígidas e a constante luta entre tradição e inovação. Com um olho clínico e uma pena afiada, ele fez o que poucos ousariam: transformou Don Juan em um símbolo de transgressão, um protagonista que chama o leitor a questionar até onde pode ir a busca por satisfação pessoal, mesmo que isso signifique pisotear os sentimentos dos outros.
A primeira cena de Don Juan o Convidado de Pedra arrasta o espectador para um banquete de emoções, onde as aparências se desfazem como máscaras em um baile de máscaras. A partir do momento em que Don Juan aparece, fica claro que estamos prestes a embarcar em uma jornada onde a promiscuidade e a irreverência são as iguarias do dia. O leitor é desafiado a se sentir compungido e fascinado pelo mesmo tempo, enquanto testemunha as artimanhas do protagonista e seu fiel escudeiro Sganarelle, que incessantemente tenta abrir os olhos de seu senhor para a perda de moral.
Os leitores mais conservadores não hesitaram em criticar a escolha de Molière em dar voz a um personagem tão repleto de falhas. "Como o autor pode glorificar um sedutor como este?", ressoavam críticas nas salas de aula e nas rodas de discussão literária. Mas a genialidade de Molière está exatamente na sua habilidade de despertar essa contradição emocional. Ele não pretende glorificar Don Juan. Pelo contrário, leva o público a uma reflexão conturbada sobre a verdadeira face do amor e da libertinagem.
Nem todo o amor é puro, e é isso que Molière expõe com maestria. A cena icônica em que Don Juan convida uma estátua para jantar, uma metáfora poderosa sobre a rejeição da ética e os limites da vida e da morte, é talvez a mais formidável de todo o texto. O impacto de sua audácia e a inevitável justiça do destino ecoam em cada linha, levando o público à pontinha da cadeira, em um misto de medo e expectativa.
A aceitação de Don Juan pela sociedade é uma questão que ainda reverbera nos dias de hoje, um tema que Molière faz questão de destacar com ironia e sarcasmo. O convidado de pedra, uma aparição sinistra, representa o juízo final que um dia todos enfrentamos. Não há como escapar das consequências de nossos atos, e Molière não se cansa de lembrar isso ao leitor.
O impacto desta obra transcendeu gerações, influenciando dramaturgos e artistas como Mozart em sua ópera "Don Giovanni" e Oscar Wilde, que revelou em suas criações a complexidade de personagens moralmente ambíguos. A presença de Don Juan na cultura popular e seu retorno constante a palcos e filmes mostram que a profunda análise de Molière sobre o ser humano é atemporal, ressoando através da historia e incitando outras vidas a refletirem sobre suas próprias decisões.
Ao ler Don Juan o Convidado de Pedra, você, querido leitor, talvez se encontre confrontado com sua própria moralidade e os limites da liberdade. A força desse texto, com suas reviravoltas e dilemas éticos, é simplesmente avassaladora. Prepare-se para mergulhar em um mar de questionamentos e inspirações. Você irá se deparar com a pergunta: "Quem sou eu diante da imensidão da vida e da sedução?" 🕵?♂️
Não apenas um relato da queda de um libertino, é a intrincada tapeçaria da condição humana, tecida por uma das mentes mais brilhantes da literatura. Sinta cada palavra, deixe-se levar pela profundidade das reflexões e não se surpreenda se, ao final, você se descobrir mais humano e, paradoxalmente, mais crítico.
📖 Don Juan o Convidado de Pedra
✍ by Molière
🧾 128 páginas
1996
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