O Doutor Não Tem Remédio
Conto satírico
Orlando Fernandes
RESENHA

A realidade e a ficção nascem de um mesmo ventre, mas em O Doutor Não Tem Remédio: Conto satírico, Orlando Fernandes nos arrasta para uma montanha-russa emocional repleta de ironias e críticas mordazes à sociedade contemporânea. Nestes quatro breves, mas intensos, retalhos de narrativa, somos convocados a explorar não apenas a figura do médico, mas a enorme responsabilidade social que recai sobre ele. Afinal, o que é a saúde, se não um reflexo das nossas prioridades?
Neste conto, que já começa com um título provocador, Ferreira arma um cenário onde a medicina não é apenas um conjunto de técnicas ou terapias. Ela é um palco de disputas, de expectativas frustradas e, de forma crua, um espelho do que se passa em nosso dia a dia. Você não consegue evitar um sorriso irônico ao perceber que o "doutor", por mais que queira, não é capaz de salvar a todos. Sua impotência diante das condições impostas pela sociedade ecoa forte em cada linha, fazendo com que você reflita sobre suas próprias experiências com a saúde e o sistema que a regula.
Os leitores têm se mostrado polarizados em suas opiniões. Uns exaltam a habilidade de Fernandes em mesclar humor e crítica social, enquanto outros levantam a bandeira de possíveis exageros. Como uma boa sátira, o conto vai para além do riso e provoca reflexões sobre a desumanização que permeia o universo médico. A figura do doutor, que deveria ser um símbolo de esperança, revela-se, muitas vezes, um mero espectador de uma imensa tragédia - a tragédia da vida humana.
Os diálogos, afiados como lâminas, transportam o leitor a uma realidade angustiante, onde as expectativas são esmagadas pela crua verdade da existência. A habilidade do autor em construir personagens que parecem saltar das páginas para nos olhar diretamente nos olhos é um dos pontos mais altos da narrativa. Isso faz com que você, como leitor, sinta a urgência de se questionar: quem realmente tem a responsabilidade de curar? O médico? A sociedade? Ou nós mesmos?
A crítica social é contundente, mas não cai no pieguismo. Em vez disso, ao adentrar o universo teatral do autor, a leitura se torna uma experiência sensorial, quase palpável, onde você pode ouvir o eco das vozes desesperadas e sentir o peso do que significa viver nas peripherias da saúde e da esperança. As opiniões negativas, muitas vezes, são fruto de um desconforto que a obra gera; como toda boa sátira, ela provoca e desestabiliza.
Portanto, O Doutor Não Tem Remédio não é apenas um conto a ser lido; é um convite a sentir e a refletir. Prepare-se para ser sacudido, para chorar e, quem sabe, até mesmo para rir nervosamente diante de uma realidade que, embora absurda, é profundamente verdadeira. O que está em jogo aqui é mais que o destino de um doutor; é o nosso próprio olhar crítico sobre a saúde, a cura e os limites da compaixão que oferecemos aos outros e a nós mesmos.
📖 O Doutor Não Tem Remédio: Conto satírico
✍ by Orlando Fernandes
🧾 4 páginas
2021
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