Puro
Andrew Miller
RESENHA

Como uma obra que se destaca em meio ao caos, Puro de Andrew Miller te catapulta para o coração de Paris às vésperas da Revolução Francesa. Não se trata de uma simples viagem no tempo, mas de uma experiência intensamente visceral e sufocante. ✨️ Cada página te convida a mergulhar nos recantos sombrios de uma cidade em plena transformação, a sentir na pele as pulsações de uma época conturbada.
O protagonista, Jean-Baptiste Baratte, é um jovem engenheiro encarregado de uma missão grotesca: limpar o cemitério dos Inocentes, cujas exumações vão escancarar não só os ossos e a decomposição, mas também os segredos enterrados de uma sociedade prestes a explodir. A responsabilidade pesa sobre seus ombros como uma sentença de morte, algo que você, leitor, vai sentir a cada linha. O trabalho de Baratte é uma metáfora brutal, uma autópsia do espírito humano e do tecido social que sustenta a Paris da época. E se você não sente um arrepio na espinha só de pensar nisso, eu preciso te avisar: você ainda não mergulhou de verdade nas profundezas deste livro.
Andrew Miller, com sua prosa lírica e ao mesmo tempo cortante como um bisturi, te obriga a contemplar a corrupção física e moral de uma cidade que, ao enterrar seus mortos, esperava enterrar também suas próprias misérias. O autor é um mestre em tecer atmosferas claustrofóbicas e paisagens psicológicas tão vívidas que quase saltam das páginas. Quando Baratte se depara com os personagens enigmáticos e muitas vezes assustadores que orbitam em seu universo, você não consegue evitar sentir uma angústia palpável, um desconforto que reverbera profundamente em sua consciência.
O cenário histórico é um personagem à parte. O período pré-revolucionário é pintado com uma acuidade quase clínica, revelando os contrastes chocantes entre a opulência da aristocracia e a miséria do povo. O livro não só te educa sobre os eventos e nuances da época, mas também te enche de uma aversão visceral pela injustiça e podridão que infesta a sociedade francesa. Cada capítulo é um fragmento dessa realidade incrustada de hipocrisia e desespero, que ressoa com preocupante relevância nos dias de hoje.
Crítico e sensível, Miller não poupa o leitor dos horrores que encontra. Ele desafia você a encarar a decomposição não só dos mortos, mas dos vivos também. A coragem exigida para realizar a tarefa de Baratte é, em muitos aspectos, a mesma coragem que você precisará para encarar suas próprias putrefações internas ao longo da leitura. E não pense que sairá ileso; este é um livro que te marca, que te faz questionar, que te obriga a olhar para dentro de si mesmo. 🌒
A recepção crítica de Puro é um testemunho de sua profundidade e complexidade. Os leitores são constantemente divididos entre a admiração pela habilidade narrativa de Miller e a repulsa pela descida quase dantesca aos infernos da condição humana. "Uma obra-prima que te deixa sem fôlego" e "um soco no estômago que revela verdades inconvenientes" são alguns dos comentários mais comuns. Por outro lado, há quem encontre o ritmo da narrativa um pouco lento, uma crítica que, convenhamos, só reforça a intensidade do mergulho proposto pelo autor.
Enfim, Puro não é uma leitura para os fracos de coração. É um convite para enfrentar seus próprios demônios, para escavar os recessos obscuros de uma sociedade em decadência, e para emergir, quem sabe, com uma nova perspectiva. Se você está pronto para uma jornada que é ao mesmo tempo um ato de coragem e um exercício de introspecção brutal, esse é o livro que você precisa ler agora mesmo. O tempo não espera, e Paris, em sua dança macabra, também não. 💀
📖 Puro
✍ by Andrew Miller
🧾 378 páginas
2013
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