Um defeito de cor - Edição especial
Ana Maria Gonçalves
RESENHA

Um confronto com a história te aguarda. Muito mais que um convite, "Um defeito de cor - Edição especial", de Ana Maria Gonçalves, é uma exigência de reverencia e reflexão. Com a força de um furacão emocional e a profundidade de uma caverna enigmática, esta obra atravessa gerações, forjando um chamado irresistível: a redescoberta de nossas raízes e identidades. Prepare o coração, pois cada página vibra como um tambor de guerra nos salões da memória coletiva.
Kehinde certamente te levará às profundezas emocionais mais desconcertantes já exploradas em um romance. Numa jornada de quase 1.000 páginas, Gonçalves recria vividamente a sina de milhares de africanos traficados como mercadoria, mas centra seu olhar na resiliência impiedosa de uma mulher que desafia a própria história. Você se verá entremeado numa tapeçaria de ficção e realidade, onde ficção e verdade se mesclam numa sinfonia agonizante de coragem e desespero.
Ambições inesgotáveis definem esta edição especial. Transportando o leitor entre os séculos XVIII e XIX, Gonçalves, com uma destreza que lembra gigantes da literatura contemporânea, como Toni Morrison e Gabriel García Márquez, nos encoraja a revisitar a cidade de Oyó, uma das capitais do tráfico de escravos na África ocidental. Ao embrenhar-se nas páginas, você será sugado pelo mercado insano onde dignidade é trocada por prata como se trocar a alma por um prato de lentilhas. Se Kehinde sobrevive? Não será revelado aqui. Antes, você precisa face a face com a tempestade de clonflitos nela engendrada - terá destemor suficiente para isso?
"Um defeito de cor" não te pede um leve despertar cultural - ele clama por um despertar catártico! Gonçalves materializa em papel a dor que o Brasil tantas vezes varreu sob os capachos de seus grandiosos salões e avenidas. Esqueça o comodismo - a obra faz exigências brutais. A prosa densa não te conduzirá por campos floridos.!!! De repente, você despertará no âmago de debates de valores humanos, essência de cidadania e universalidade da dignidade, como um navio prestes a submergir nos redemoinhos de erros históricos.
Não te deixe iludir pelos argumentos fervorosos dos que taxam o romance de longo ou arrastado. Estas vozes podem ter tropeçado justamente no desentendimento da magia da verborragia prolixa da obra. Site-se no compasso estranho da dor, a insanidade de culturas decolonizadas lutando para sobreviver. As linhas carregadas de lírica envergadura são como cacos de vidros coloridos adquiridos aos trancos que compõem, ao final, um mosaico sangrento e, ainda sim, intocado pelas tintas brilhantes da revigorada esperança humana.
Ana Maria Gonçalves talvez nunca tenha antecipado o incentivo moral e emocional entre os modernos leitores, seu texto sugerindo muito mais do que horizontalidade literária, mas impulsionando os estratos mais trágicos do que Renascimento humano pode se converter ao ler "Um defeito de cor". Regue cada cláusula interlinha com a serena certeza de que enriquecido será teu espírito - e não tu poderás calar os ecos ensurdecedores ressoando dentro de ti por dias a fio!
Encare as intempéries deste épico moderno, pois, cada cicatriz, cada nugget densamente emaranhado no romance, exigirá repensamentos constantes da verdadeira fofagem nacional e os embates entre herança e segregação racial ainda escandalosamente presentes.😍🍂
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Mais do que seguir os compartilhamentos pelos becos empoeirados do WhatsApp, caminha contigo nesta jornada pela mudança de compreensão racial e histórica um tanto carente na realidade brasileira. Certissimamente envolvido, tu implementarás fragmentos dessa experiência ao cotidiano. O acúmulo final? Um invencível sentido renovado de ser e estar na sociedade. Após avançada leitura, sem remissão, repito: difícil acordar o próximo dia sem as lágrimas evocadoras, ou risos sarcásticos, espaços suplicantes da radical embriaguez da consciência histórica consumida.
📖 Um defeito de cor - Edição especial
✍ by Ana Maria Gonçalves
🧾 968 páginas
2022
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